A Escuta Psicanalítica

Porque escutar e não apenas ouvir?
O ouvir é automático, fisiológico, uma percepção aos sons.
Escutar é sentir as palavras, é dar atenção àquele que fala.
O psicanalista não deve limitar-se ao ouvir, ele deve escutar.
No discurso do outro nasce a escuta de amor do psicanalista. Escuta essa que deve ser provida de neutralidade.
O que significa uma escuta neutra?
-O psicanalista, não aconselha, não emite julgamentos. O psicanalista é imparcial, aceita o outro como ele é.
O conceito de "cura pela fala" que caminha junto à psicanálise é a resposta para uma boa escuta psicanalítica. A "cura pela fala" é realizada pelo que fala (associação livre), não pela opinião daquele que escuta. Se o psicanalista escolher falar livremente, ele impede o processo de "cura" do outro, e, em vão busca curar-se a si mesmo.
No escutar psicanalítico outro ponto substancial é a atenção flutuante. Freud falou claramente sobre ela:
"Consiste simplesmente em não dirigir o reparo para algo específico e em manter a mesma 'atenção uniformemente suspensa' (como a denominei) em face de tudo o que se escuta. (FREUD, 1911, p.125-26).
A escuta flutuante não prioriza fragmentos, não considera algumas palavras mais importante do que outras e não é tendenciosa. Ela é uniforme. Não trabalha apenas na observação do falado, mas o que é dito e não dito representando o inconsciente.
O psicanalista não deve tentar controlar a escuta. Ao contrário, ela deve fluir naturalmente. Prender-se em determinados pontos da escuta, deixará passar pontos relevantes que deveriam ser considerados.
Entre aquele que diz e aquele que escuta, muito se perde, por aquilo que não se escutou e pelo que não se conseguiu dizer.
Entre palavras, silêncios e algumas falhas, o escutar psicanalítico deve acontecer.
Em meio às singularidades do analista e analisando, em um processo não exato que é a psicanálise, permitir que o outro fale livremente e permitir-se "flutuar" na escuta neutra, são atos de amor à clínica psicanalítica.
